Conversas da vida e da morte

Após termos assistido à história da "Menina dos Fósforos", actividade que a educadora Milú preparou no âmbito do Dia de Estarmos Juntos sobre a Erradicação da Pobreza, estivemos a conversar sobre o que vimos e aprendemos...
E, apesar desta gente ser pequena, já tem grandes ideias!

Ora leiam o diálogo, que tentei reproduzir da forma o mais fiel possível:

Então quem me quer dizer o que aconteceu à menina no final da história?
- Morreu... - disse o Alexandre.
- E quem morre vai para o buraco da terra e os bichos comem! - comentou muito rapidamente o Rodrigo R.
- Não comem nada! - disse o logo o Rodrigo A., muito admirado.
- Não, as pessoas quando morrem vão para o céu - disse a Ana Maria.
Vamos lá a ver... a menina morreu, não foi? Então em que ficamos?  Ela foi para o céu ou para debaixo da terra?
- Huumm...(momento de reflexão)
- Eu acho que as pessoas quando morrem vão para o céu, como a menina dos fósforos foi com a avó - já não me recordo quem fez este comentário, mas ele surgiu no meio da conversa...
- Não foi nada, era ela a sonhar! - acrescentou o Alexandre.
- Vão para a terra, que eu sei, eu já vi - continuava a insistir o Rodrigo R. - abrem um buraco e depois põem lá o caixão!
Algumas caritas começavam a parecer um pouco assustadas com o rumo que a conversa levava e não havia maneira de as crianças chegarem a acordo sobre uma questão tão complexa...

Então contei-lhes outra história, pedindo emprestada à Luana  uma das luvas que tinha trazido:

Imagem daqui.


Estão a ver esta luva? Ela vai representar o corpo da menina dos fósforos.
Está aqui, quieto, não vive, não respira, não se mexe, não fala...


 Imagem daqui.
Agora olhem para a minha mão. Ela está viva, movimenta-se. Ela vai representar a vida.
Ora quando a menina dos fósforos nasceu, a vida entrou no seu corpo (e a minha mão entrou na luva). 


Imagem daqui.
Ela começou a mexer-se, a chorar, a comer e, mais tarde, a falar, a correr, a brincar...
Mas, neste último dia do ano, em que a menina estava cheia de fome e de frio, a vida deixou o seu corpo (a minha mão saiu de dentro da luva da Luana, deixando-a pousada em cima da mesa).


O que ficou aqui já não serve para nada: não respira, não se movimenta, vai ser enterrado.
Mas a vida (ou a alma, como lhe quiserem chamar) continua, essa "vai para o céu", permanece para sempre!

- Vês, o corpo vai para a terra como eu dizia! - reafirmou o Rodrigo R.
- Mas a pessoa vai para o céu...
- Vai para o Jesus! - disse o Rodrigo A.

Pois é, aqueles de quem nós gostamos muito nunca desaparecem, ficam lá no céu e nos nossos corações!

As carinhas  ansiosas aliviaram a sua expressão e todos pareceram perceber esta tão simples história/explicação.
E, como se pode ver,  nunca é cedo demais para trabalhar questões filosóficas com as crianças, desde que estas venham ao encontro das suas dúvidas.

Comentários

  1. Juca é bom saber que falam sobre esse assunto com as crianças, pois eu já tive de explicar á minha filha sobre esse assunto e foi um pouco dificil.Parabens pela abordagem sobre o assunto.
    Bjs Beta

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