A avaliação no pré-escolar é uma realidade relativamente recente (mais para uns do que para outros...) e que envolve uma grande complexidade.
Na verdade, a ausência de um "programa" definido pela tutela, coloca aos educadores de infância o desafio de serem, eles próprios (em função da realidade onde leccionam) os construtores e gestores do currículo que vão implementar com determinado grupo de crianças: daí a elaboração do Projeto Curricular de Grupo (PCG), documento que é normalmente apresentado aos pais e encarregados de educação no início do ano letivo.
Assim, o processo de avaliação das crianças do pré-escolar é, também, necessariamente diferente do implementado em outros níveis de ensino, ou seja, é mais uma das especificidades da educação de infância e envolve a
observação regular e periódica da criança, numa grande variedade de
circunstâncias representativas do seu comportamento ao longo do tempo, assentando em algumas linhas diretrizes que devem estar em consonância com a metodologia utilizada. Estas são as que estruturam a avaliação das crianças da Sala Fixe:
- A avaliação é o suporte do desenvolvimento e da aprendizagem da criança;
- Assenta em realizações reais e não em situações artificiais, criadas com o intuito de serem objeto de avaliação;
- Utiliza diversos instrumentos e processos, nos quais se podem incluir coleções de trabalhos representativos e registos de observações / conversas com as crianças;
- Reconhece a diversidade individual da aprendizagem, tendo em conta as diferenças de estilos e ritmos de aprendizagem e a teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner;
- Demonstra os aspetos positivos e os progressos das crianças, sem esconder as suas dificuldades;
- Constitui-se como ponto de partida para ajustamentos ao currículo ou para a implementação de procedimentos mais individualizados;
- É feita com periodicidade, constituindo-se como um processo regular de partilha de informações entre educadores e pais, sobre o desenvolvimento e realizações das crianças. (In: PCG, 2011-2012)
Partindo de uma imagem da criança como ativa e competente, considero importante que, desde cedo, esta se habitue a tomar parte ativa em todas as coisas que dizem respeito ao seu processo de desenvolvimento e aprendizagem.
Por isso, apesar de ainda pequenas, porque não ouvir as crianças relativamente ao que pensam sobre o seu desempenho e crescimento ao longo do tempo? É o que tenho procurado fazer, embora de forma diferenciada nos três momentos de avaliação que temos ao longo do ano letivo. Assim, no primeiro período as crianças foram chamadas a uma conversa em torno do seu Portefólio, sendo que ia registando as suas palavras acerca do que observava, bem como a sua opinião. Desta vez optou-se por um formato diferente, diferenciado para médios e pequenos: uma ficha de autoavaliação construída pela educadora em função do trabalho desenvolvido e dos conteúdos abordados ao longo do período.
E esta postagem serve para dar os parabéns a todos os fixes, médios e pequenos, que colaboraram neste ambicioso empreendimento de, em apenas 4 dias, conseguirmos (para além de todas as atividades de rotina que preenchem os nossos dias) completar com sucesso a autoavaliação!
E que bem se saíram... quase todos foram capazes de demonstrar um olhar crítico sobre aquilo que fazem e sobre a forma como o fazem!
Também foi gratificante observar, nesta conversa individual (uma oportunidade excelente, mas nem sempre possível no decorrer do dia a dia na sala) que muitos conceitos importantes estão já integrados pela grande maioria das crianças do grupo: cor, forma, esquema corporal, sentido de número, identificação/escrita do próprio nome, reconhecimento de letras/algarismos...
O mais admirável nestas experiências é a constatação de que todas as crianças, mesmo as mais novas, são capazes de fazer autoavaliações plenas de justiça e correção, muitas vezes mais precisas do que as que fazem os adultos. Revelam uma autoconsciência crescente das suas atitudes, do seu empenho na realização de tarefas, parte de um amadurecimento natural (à medida de cada faixa etária), que vai ganhando consistência.
Por isso acredito cada vez mais que a autoavaliação pode ser uma estratégia de sucesso na educação de cidadãos conscientes do seu papel na construção de uma sociedade mais solidária, responsável e humana.
Desta vez não há fotos... pois a essência do momento esteve na partilha mais intima entre criança/educadora.
Os resultados estão nos Portefólios de cada um, que ontem todos levaram para casa.
Pais, aproveitem e admirem-se com aquilo que os vossos filhos são capazes!
Concordo que as linhas gerais apresentadas, embora considere que são necessários instrumentos que agilizem os julgamentos e permitam a comunicação e a partilha com outros agentes educativos. Mesmo sem fotos da avaliação reaizada seria interessante dar a conhecer a tal ficha.
ResponderEliminarOlá Ofélia, obrigada pelo comentário.
ResponderEliminarClaro que são necessários instrumentos, pois é necessário agilizar todo este processo complexo:
Registos de observação diferenciados, fotos, registos escritos de conversas com as crianças/entrevistas, checklists, todos são ferramentas para colheita de dados.
O Portefólio Individual documenta todo o processo, integra as fichas de avaliação descritivas periódicas, as autoavaliações e um espaço dedicado à colaboração dos pais, facilitando a partilha com estes e com docentes do 1º ciclo, EE, ou outros técnicos (se necessário).
Se quiseres conhecer posso enviar-te as fichas que utilizei, os pais já as conheceram, pois têm neste fim de semana os Portefólios em suas casas ;)
Bjs, Juca
Bjs, Juca
De facto o essencial está no texto, por sinal, muito bem elaborado e acessível aos leitores.
ResponderEliminarNós educadores para fazer uma avaliação consciente evidenciando os ganhos de cada criança temos que recorrer a uma série de instrumentos de recolha de dados, no fim dão-nos 3 três dias, os Agrupamentos que dão, para avaliar.
Em contrapartida os outros ciclos fazem uma ficha de cruzinhas e está pronto. Queremos consultar os instrumentos de suporte à avaliação e o que temos? Os testes, claro!
bjs
Olá Juca,
ResponderEliminarMais uma vez, muito obrigado pela "síntese". Excelente trabalho de execução e, sobretudo, de divulgação.
Falta apenas a tua reflexão sobre o produto.
De qualquer forma, e aproveitando o "comentário" da Graça, deixem-me apenas dizer que a "evidência" da avaliação que nos é solicitada é que define a forma como ela é "produzida". Cda um de nós é diferente. Cada criança é uma criança. Se defendemos, "tout court" esta ideia, devemos também defendê-la, quando, em reuniões de departamento ou em outros locais desse tipo, definimos, entre pares, os instrumentos que nos guiam (ou devem guiar). Voltando ao ponto inicial: a avaliação é apenas o resultado de um processo de observação aturado. Não avaliar não significa que as "competências", os "objetivos" e todos os outros referentes não tenham sido atingidos nem que deles não exista evidência. E esta é, normalmente, a "nossa" confusão. Passamos o tempo a "justificar-nos" e perdemos pouco tempo a desenvolver, realmente, atividades experimentais que permitam a evolução...
Obrigado, Juca!
Parabéns aos FIxes e à sua educadora Juca!
ResponderEliminarObrigada pela partilha!
Procurando esclarecer um pouco esta questão, na minha opinião não é (mesmo!) a evidência da avaliação que me é pedida que enforma o modo como a produzo...
ResponderEliminarAntes são as minhas crenças e convicções acerca da imagem de criança que defendo e o modo como acredito que devo proceder. Felizmente, para já, tenho podido fazê-lo...
Por isso mesmo não concordo que se utilizem instrumentos "pronto a vestir de tamanho único" para avaliar as crianças (ou mesmo para outras coisas...);
O único formato de avaliação que é comum aos educadores é uma ficha descritiva por áreas de conteúdo, que cada um preenche como melhor entende.
Mas concordo que o desenvolvimento se processa e que as competências /objetivos se desenvolvem e atingem independentemente disso estar a ser observado;
Mas considero, no entanto, que esse é o nosso papel, dar visibilidade ao trabalho que fazemos e ao seu impacto no crescimento das crianças.
Já não concordo que passemos o tempo a "justificar-nos", perdendo assim o tempo que é necessário para desenvolver atividades adequadas e pertinentes, mas penso que isso tem muito a ver com os contextos em que nos movemos... uns são mais "comunidades aprendentes", que promovem um desenvolvimento profissional sustentado, outros são mais "comunidades deprimentes"...
Obrigada pela reflexão!
Nota:
Quanto à minha própria reflexão sobre o produto, não me parece que deva expôr aqui, fica apenas o contentamento pelas mudanças positivas que vou observando!