Em jeito de desabafo e reflexão...

Ultimamente têm vindo a ser "descobertos" vários casos de plágio, feitos por educadores, de publicações de outros colegas, nos quais me incluo. Na verdade, tal como outros colegas, também já vi as minhas palavras assumidas por outros, sem que fosse feita qualquer referência ao meu nome. 
Isso faz-me pensar se será, ou não, pertinente continuar a partilhar, aqui e na página do Bloguefólio no Facebook, aquilo que vou fazendo com o meu grupo de crianças e também o que, em termos teóricos, sustenta a minha prática pedagógica...

Ao longo destes anos (e já lá vão 7 desde que criei o Jardim de Cruzeiro e quase 5 aqui no Bloguefólio) tenho vindo a fazê-lo...
  • porque acredito que os pais das minhas crianças, como principais parceiros educativos, devem poder aceder, quando e onde quiserem/puderem, ao trabalho que desenvolvo com os seus filhos, de modo a poderem conhecê-lo melhor e ampliar as oportunidades educativas também em contexto familiar;
  • porque acredito que, mais do que ninguém, os pais devem poder aceder aos documentos que fundamentam essa prática, conhecendo a metodologia e a intencionalidade pedagógica que lhe está subjacente;
  • porque acredito no professor como prático reflexivo, na escrita como motor de reflexão, na tecnologia como espaço de intercâmbio e colaboração...
A este propósito recorro à minha tese de mestrado (também ela alicerçada numa postura reflexiva e no trabalho colaborativo docente, mediado pela tecnologia) para ilustrar as minhas convicções:

"A verdadeira concepção do professor como um prático reflexivo foi introduzida por Schön, ao defender que a reflexão a partir dos acontecimentos é a via ideal para que o docente seja capaz de enfrentar situações novas e tomar decisões apropriadas. O mesmo autor salienta: 'Um professor reflexivo permite-se ser surpreendido pelo que o aluno faz. Num segundo momento, reflete sobre esse facto (…) procura compreender a razão porque foi surpreendido. Depois, num terceiro momento, reformula o problema suscitado pela situação. (…) Num quarto momento, efectua uma experiência para testar a hipótese que formulou. (Schön, 1992, p. 83)" (Sousa, M. J., 2011:29)

"A dinâmica de interação à distância permitida pelas TIC pode ser desenvolvida com recurso a suportes online, como é o caso dos blogues, que funcionam como ferramentas de comunicação, potenciando uma participação refletida mas, em simultâneo, sendo instrumento organizador dessa evidência, que se torna importante pelo seu caráter de produto decorrente de um processo, característica que pode comungar com os portefólios reflexivos (Sá-Chaves, 2000)." (Sousa, M. J., 2011:49)
  • porque acredito no trabalho colaborativo docente e sei, por experiência, que este nem sempre é possível de desenvolver em proximidade;
  • porque acredito que é possível encontrar sintonias à distância e, dessa forma, tornar quem está longe num amigo crítico próximo;
"Uma das formas de concretizar a colaboração, apontada por diversos autores, é através da palavra escrita e o seu uso pode também transformar-se numa prática reflexiva, pelo que as narrativas têm vindo a ser utilizadas no campo da educação em vários âmbitos: na construção de conhecimento, na investigação educativa e no desenvolvimento pessoal e profissional dos professores (Reis, 2008). Na opinião deste autor, quando os docentes escrevem sobre os acontecimentos profissionais fazem mais do que registar o que sucedeu, alteram modos de pensar e de agir e sentem “motivação para modificar as suas práticas e manter uma atitude crítica e reflexiva sobre o seu desempenho profissional." (Sousa, M. J., 2011:41)

  • porque acredito que na partilha todos crescemos e que o trabalho pedagógico que cada educador faz na sua sala com os seus meninos, sendo divulgado, pode inspirar outros, pode ajudá-los a questionar-se, incentivá-los a aprender e a querer fazer sempre melhor em prol do seu desenvolvimento profissional.
"Quanto ao desenvolvimento profissional, como realça Lima (citado por Alves & Flores, 2010), um dos maiores desafios que se colocam aos profissionais de educação “é o de serem capazes de desenvolver uma profissionalidade que assente, não exclusivamente no intercâmbio direto com os ‘seus’ alunos, mas também na interação alargada com outros profissionais "(p. 56)" (Sousa, M. J., 2011:18)

Assim, gostaria de reafirmar a todos os que por aqui passam, principalmente colegas, que não gosto que copiem sem citar o nome, que isso não é ético, nem próprio de um profissional de educação. 

"Os profissionais de educação estão em interação permanente com o ambiente em seu redor, sendo que este pode estimulá-los, criando contextos de aprendizagem e desenvolvimento ou, pelo contrário, condicionar as suas práticas. No primeiro caso, esse contexto educativo seria uma verdadeira organização aprendente, conceito que diz respeito a uma organização em expansão permanente da sua capacidade de criar o futuro." (Sousa, M. J., 2011:37)

A cópia pura e simples, sem ter em consideração o contexto que deu origem ao documento não faz qualquer sentido e, como refere a colega Ofélia Libório, "não acrescenta nada, porque tem pouca probabilidade de transformar a realidade e vai camuflá-la".
Leiam, comparem, questionem, dêem feedback, critiquem, argumentem... 
... mas por favor, não se limitem a copiar!

Comentários

  1. É triste Juca, muito triste... Mas sabes, ao longo destes 40 anos de trabalho, e por conseguinte de muitos plágios, eu cheguei a uma conclusão. Sou uma idiota, MUITO idiota mesmo, porque depois de me "roubarem" uma ideia, vem sempre outra ainda melhor. Sou portanto perita em ideias, logo= idiota. Brincadeiras à parte,é triste, muito triste mesmo, e é mesmo sinónimos de burrice. Pobres plagiadores, que não conseguem mesmo ter ideias nenhumas e vivem parasitando os outros. Um dia nós vamos desaparecer e depois... Coitaditas, nunca mais vão conseguir trabalhar. Mas devíamos poder apresentar queixa.

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  2. Muito bom !
    Gostei muito de ler este teu desabafo, tão bem fundamentado!
    Grande autora

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Juca, totalmente de acordo! Exige-se profissionalismo e autenticidade! Que cada um assuma unicamente o que é seu e faça referência às fontes que utiliza nos seus trabalhos, blogues, etc...
    bjs

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  5. Acho que não conseguiria escrever e dizer tão bem o que aqui explanas.
    Penso que é comum a todos os que se sentem plagiados algo que a Maria da Luz refere " Pobres plagiadores, que não conseguem mesmo ter ideias nenhumas e vivem parasitando os outros. Um dia nós vamos desaparecer e depois... Coitaditas, nunca mais vão conseguir trabalhar." A César o que é de César.Pode ser que estes "desabafos" cheguem a quem plagia, e os faça "ter vergonha na cara".Obrigada pelo "desabafo". Beijinhos Triquiteiros

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  6. É pena que:
    -o que é bom não é original e
    -o que é original não é bom.
    Não é detentora do saber.

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  7. Caro "Anónimo"

    Não costumo publicar comentários sem nome, mas, para que não pense que só publico os que me são favoráveis, publiquei o seu.

    Esqueceu-se de incluir nas suas "penas", que também "é pena" que quem dá a opinião não dê a cara!

    Quanto ao conteúdo do blogue, se não gosta, não visite, só quem cá vem com gosto é que faz falta!

    Tudo que é colocado neste blogue, ou é original, ou é feita a devida referência ao(s) autor(es).
    A sua opinião quanto a ser "bom" ou não, é relativa e não passa disso, uma opinião... ninguém agrada a todos.
    O que faço, faço de acordo com a minha consciência e não para agradar a ninguém.

    Se acha que não "é bom", não copie. Simples, não?

    E ninguém se arvorou em detentor do saber, apenas se fundamentou uma opinião devidamente sustentada.

    E se não lhe agrada, não volte.

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  8. Juca, o que acontece contigo é porque tens valor e mérito. Não ligues! Tu és já uma referência, uma colega que gosto de referir e que tive o prazer de conhecer pessoalmente. Digo sempre o teu nome como autora das pré histórias ás crianças e até as minhas colegas já to conhecem. Um abraço amigo.

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  9. Juca, para mim tu és uma profissional de excelência. Se o registo/escrita e partilha das tuas práticas é uma forma de as melhorar, acho que para muitas de nós educadoras és uma fonte de inspiração, um incentivo enorme para a melhoria e para fazer mais, por isso força para continuares e de vez em quando vai fazendo uns alertas como fizeste agora para não ficar esquecido.
    Obrigada por tudo o que nos vais proporcionando e aos nossos pequeninos.
    bj
    Carmen

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